Aos 13 anos de idade me apaixonei pela música, mais especificamente pelo rock’n’roll. Lembro claramente do dia, da situação e do disco que tocava quando isso aconteceu. Hoje, passados 33 anos, sou músico, multi-instrumentista, compositor, produtor musical e idealizador de um website que visa divulgar a cena do rock da cidade onde vivo. Acho seguro dizer que aquele amor à primeira vista deixou marcas duradouras.
Naquela fase adolescente, uma das coisas que mais me atraiu ao rock foi o fato de ele ser subversivo em sua essência. Desde o início percebi que a natureza do rock’n’roll era rebelde, sexy, questionadora, crítica, ácida, mal-educada, barulhenta, espalhafatosa e até um pouco perigosa. Um estilo musical aparentemente feito sob-medida para jovens em processo de autoconhecimento e em busca de uma identidade própria.
Hoje eu trabalho como professor de inglês e tenho contato com muitos adolescentes da mesma faixa etária que eu tinha quando comecei a curtir música. A maioria deles não escuta rock por achar meio antiquado, coisa de tiozão! Durante um tempo fiquei imaginando se as novas gerações estavam se tornando gradativamente mais caretas e por isso não notavam o apelo rebelde do meu estilo musical favorito. Talvez isso seja uma verdade parcial, porém, com o passar do tempo tive que contemplar a possibilidade de que o problema não seja somente as novas gerações. Talvez quem esteja ficando careta é o próprio rock. Será possível? Acho que não é só possível, como provável!
Não sou um profundo conhecedor do rock atual, não sei quais são as bandas legais do momento. Tento me manter informado na medida do possível, mas acabo escutando muita coisa ruim e perco rapidamente o interesse, porém, a impressão geral que tenho é que o rock, assim como tantas outras formas de expressão artística, se tornou uma vítima do politicamente correto. O rock de hoje em dia incomoda pouco, suas letras são menos contundentes e os roqueiros contemporâneos são bem mais domesticados que os de outrora. Talvez seja por isso que a juventude atual esteja optando por etilos musicais mais crus e escrachados como o funk. Critiquem o funk o tanto que quiserem, mas não há como negar que músicas com letras tão sexualmente explícitas estão fadadas a despertar o interesse de jovens no auge do seu tesão adolescente e com altíssimos níveis de hormônios bombando em suas veias. Até eu, se tivesse 14 anos de idade, ia querer conhecer essa tal novinha que só quer vrau, só quer vrau, só quer vrau!
Eu tenho uma provocação que sempre faço aos meus colegas de banda quando estamos trabalhando em músicas autorais. Digo a eles que o nível de rock’n’roll das nossas músicas é diretamente proporcional ao grau de preocupação que causamos aos pais dos adolescentes que vão escutá-las. Em outras palavras, se a gente deixa os pais da molecada preocupados por eles estarem ouvindo nossas canções, então nosso rock’n’roll é dos bons!
É lógico que isso é um exagero e é claro também que a ideia de chocar simplesmente por chocar não melhoraria a situação do rock atual, porém, acredito que se os compositores de hoje fizessem um esforço consciente para se livrarem das amarras impostas pelo politicamente correto e outras pressões sociais, talvez eles conseguissem encontrar sua verdadeira voz, sua autenticidade artística e finalmente correr o risco de dizer aquilo que realmente pensam. Seria dessa forma que resgataríamos a verdadeira essência do rock’n’roll, pois não existe nada mais rebelde e subversivo do que uma pessoa autentica falando aquilo que realmente pensa, doa a quem doer.
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