Bandas de churrasco, rock naftalina e o tesouro no boteco da esquina

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Há algum tempo atrás um amigo me enviou o link de um vídeo amador que, como tantos outros espalhados pela internet, mostrava a apresentação de uma banda autoral desconhecida. O show, gravado em 1991, acontecia no campus de uma universidade californiana e a câmera, estática, registrava tudo de um ângulo que permitia ver não somente o palco, como também parte do público presente. Alunos iam e vinham, alguns paravam por poucos instantes para observar o que estava acontecendo, enquanto outros seguiam seus caminhos sem demonstrar muito interesse. Resumindo, a banda, apesar do seu esforço, contava com a atenção parcial de meia dúzia de gatos pingados. Uma lástima, pois o som dos caras merecia mais. Eles tinham muito potencial! Tinham tanto potencial, que essa mesma banda acabou se tornando uma das maiores influências do rock and roll de sua geração. Estamos falando de nada mais nada menos do que Rage Against The Machine.

Eu sempre acreditei, por uma questão de lógica, que o futuro do rock se encontra na cena autoral. É claro que como músico sempre curti reproduzir canções de bandas que admiro e faço isso até hoje com muito prazer, porém, é compondo e criando coisas autênticas que me sinto um artista de verdade. O problema é que em geral existe muito incentivo para que bandas de rock toquem sucessos consagrados em vez de suas próprias composições e isso acaba sendo um grande tiro no pé, um grande atraso para a renovação do estilo. Talvez seja por isso que dizem por aí que o rock and roll morreu. Não creio que tenha morrido, mas que está com um forte cheiro de roupa mofada, isso é inegável! Imagino se todos os talentosos instrumentistas que eu conheço resolvessem se dedicar mais as suas próprias composições do que a um repertório de “clássicos lado A”. Acredito haver muito talento sendo desperdiçado.

Minha intenção não é criticar aqueles que decidem pular de cabeça no universo dos covers. Como já mencionei, eu também tenho minha bandinha de animar churrasco, entendo as motivações e sei que não são poucas. Meu objetivo é fazer com que os amantes do rock reflitam um pouco sobre o valor das bandas autorais e o que podemos fazer para incentivá-las. Não nego que seja muito divertido ir ao show de uma dessas centenas de bandas cover do Guns’n’Roses que tem aquele vocalista que além de cantar igualzinho ao Axl, também se veste a caráter (saia xadrez e tudo mais), porém, lembre-se que os verdadeiros futuros grandes nomes do rock tocam músicas que ninguém nunca nem ouviu e talvez eles estejam se apresentando hoje no campus da sua faculdade ou no boteco da esquina.